Jack London e o Mercúrio bronzeado

Gabriel Pierin
John Griffith Chaney, conhecido com o pseudônimo Jack London, foi um jornalista e ativista político norte-americano. Nascido em São Francisco, em 1876, ele se tornaria um dos primeiros escritores a alcançar o sucesso mundial.

Das suas inúmeras obras, “O Cruzeiro do Snark” narra suas viagens a bordo de um veleiro que ele mesmo construiu. Nele, London escreveu as experiências vividas enquanto navegava pelo Pacífico. Em 1907, o jornalista alcançou as ilhas havaianas.

No início do ano 1900, o Havaí tornara-se território dos Estados Unidos. A população havaiana foi praticamente dizimada na segunda metade do século XIX por doenças trazidas pelos europeus. Além disso os missionários cristãos consideravam a íntima relação dos nativos com o mar o caminho para a depravação moral.

O surfe estava praticamente perdido quando o destino cruzou o caminho do havaiano George Freeth com os escritores Alexander Humer Ford e Jack London. Num dos relatos mais impactantes de sua obra, London escreveu:

“E de repente, lá fora, onde um grande volume de água fumante ergue-se para o céu, elevando-se como um deus do mar da confusão de espuma e de um branco agitado, na crista vertiginosa, derrubada, saliente e decadente, precária aparece a cabeça escura de um homem. 

Rapidamente ele se levanta através do branco correndo. Seus ombros negros, seu peito, seus lombos, seus membros – tudo é projetado repentinamente na visão de alguém. 

Onde, no momento anterior, havia apenas a ampla desolação e o rugido invencível, agora há um homem, ereto, cheio de estatura, sem

 lutar freneticamente naquele movimento selvagem, não enterrado, esmagado e golpeado por aqueles

 

 poderosos monstros, mas de pé sobre todos eles, calmo e soberbo, equilibrado no cume vertiginoso, os pés enterrados na espuma agitada, a fumaça salgada subindo até os joelhos, e todo o resto no ar livre e na luz do sol, e ele está voando pelo ar, voando para a frente, voando rápido como a onda em que ele está. 

Ele é um Mercúrio – um Mercúrio bronzeado.

O escritor ficou fascinado e tentou correr uma onda em pé. O fracasso nas primeiras tentativas foi superado com a ajuda de Alexander Humer Ford. “Sai dessa, prancha”, disse Ford. “Olhe para o jeito que você está tentando montá-la. Pegue a minha. É do tamanho certo para um homem”.

London aprendeu a surfar e apoiou a criação do Outrigger Canoe Club, o primeiro clube de surfe da história, considerado um marco no renascimento do surfe e da cultura de praia havaiana.

O sucesso do surfe rompeu barreiras e fronteiras. George Freeth foi levado para os Estados Unidos para mostrar sua arte e era anunciado como o “homem que andava sobre as águas”. No seu rastro, Duke Kahanamoku percorreu o mundo, transformando-se no primeiro grande embaixador do espírito Aloha.

O surfe conquistou um porta-voz influente. London era um fenômeno

 literário e sua obra entusiasmou muita gente na costa norte-americana. Os jovens passaram a buscar nas ilhas havaianas o paraíso das ondas e o surfe seguiu vivo na terra dos reis.

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