A Kombi de Elyseu

Por Gabriel Pierin

Praia do Pernambuco, em Guarujá

Corria o ano de 1967, Elyseu tinha por hábito contemplar o mar do Itararé antes de voltar para a casa, em São Vicente. A paixão pelos esportes aquáticos era antiga, mas o surfe era uma descoberta naquela praia.

Enquanto o céu se escondia sob as nuvens e os trovões, as ondas se abriam e os surfistas do Itararé deslizavam com suas pranchas sobre elas, numa perfeita harmonia com a natureza.

Aquele final de tarde de sábado típico de verão mudou a vida de Elyseu de Andrade Junior, então com 32 anos. No dia seguinte pela manhã ele voltou para saber mais sobre a novidade. Curioso, abordou um rapaz entre 15 e 16 anos que carregava uma enorme prancha.
O jovem deu explicações sobre a prática do surfe e chegou até a oferecer a prancha para compra. Afinal, Elyseu conversava com Dudu Argento, o surfista que ao lado do irmão Carlinhos, criara a lendária Twin Surfshop. Vicente Ferraro, outro pioneiro do surfe, juntou-se aos dois e aconselhou a encomenda de uma prancha sob medida. Para tal intento, indicou o saudoso Nelsinho Excel, da Nel Surfboards.

A ideia de uma prancha nova lhe convenceu. Após duas semanas, a mini-model de 2,30 metros estava pronta. Elyseu colocou a prancha na água e as primeiras tentativas de ficar de pé foram em vão. Outro jovem surfista aproximou-se e deu dicas valiosas. Tratava-se do Longarina.

A sensação de descer uma onda pela primeira vez foi o impulso para a mudança de vida do arquiteto Elyseu. Morando no bairro da Boa Vista em São Vicente, qualquer tempo livre se transformava em hora de surfe. No escritório de arquitetura, estagiava Sérgio Barletta, outro surfista. Por meio dele, Elyseu conheceu o lendário Homero, renomado shaper brasileiro.

Praia das Astúrias, em Guarujá

O arquiteto contava com uma Kombi para trabalhar nas obras e construções. Logo, o utilitário virou o veículo para as surftrips. A Kombi beje partia todos os domingos na primeira hora da manhã para o Guarujá em busca das melhores ondas, especialmente para a Praia do Pernambuco.

As viagens ficaram conhecidas e ninguém queria perder a carona, a companhia e a alegria na velha Kombi. Certa vez, nada menos que 14 garotos apertado

s dividiram espaço com Elyseu e a família, numa inesquecível trip para a Praia de Iporanga.

Nesse ambiente cresceram os filhos de Elyseu. O mais velho, Marcelo, tinha oito anos e já pegava boas ondas, a filha Gisella tinha quatro anos, enquanto o mais novo, Christiano, ainda no colo da mãe, Luzia. No Kombão também pegaram carona os irmãos Salazar, Lequinho, Almir e o pequeno e irrequieto Picuruta, que mesmo sem prancha, surfava de bicão. Era o sarro dos mais velhos que volta e meia o descarregavam da Kombi em ato brincalhão.

Em 1978 Elyseu mudou-se para Santos, no bairro da Ponta da Praia. As saídas para o Guarujá continuaram e a garotada do bairro logo aderiu as jornadas. Novos fiéis aderiram ao horário matutino, além de Marcelinho, Galo Cego, Fernandinho Magalhães, Luciano Menudo, Fábio e mais os convidados dos convidados.
O tempo foi passando e após 30 anos, afetado pela artrose, Elyseu parou de surfar, mas não de recordar. A Kombi segue viva na memória e no tempo.

 

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