Gabriel Pierin
Em janeiro de 2018, uma multidão se reuniu na Praia da Guarita em Torres, no Rio Grande do Sul. A praia, famosa por suas imensas falésias e boas ondas, recebeu o enorme público para prestigiar um grupo de velhos amigos.
Aqueles homens, todos com mais de sessenta anos, tinham uma boa razão para comemorar. Pioneiros do surfe gaúcho, eles rememoravam o Primeiro Campeonato de Surfe realizado no Rio Grande do Sul, há 50 anos.
Naqueles tempos, o jornal Zero Hora ainda precisava explicar o que era o esporte. A edição de 4 de janeiro de 1970 observou para a prática “coragem, uma tábua especial que custa bem caro, e bastante equilíbrio”.
O protagonista do primeiro campeonato na Praia da Guarita foi Marco Antônio Pottshoff Silva. Com apenas 16 anos, Marco impressionou o júri, formado por cariocas, e saiu do mar carregado em cima da prancha de madeirite para receber o troféu de campeão.
Até meados da década de 1950 o surfe ainda não frequentava as águas gaúchas. O pioneiro foi Oscar Martins de Lima. Ele tinha 19 anos quando confeccionou a primeira peça. A partir de uma foto, o jovem e seu irmão fizeram uma prancha de três metros utilizando uma pesada tábua de madeira de cedro. A prancha não tinha quilha, apenas uma leve inclinação. Era o ano de 1955 e na Praia Grande em Torres, enquanto desfilavam ousadas garotas de maiôs, os corajosos irmãos desafiavam o mar revolto.
Mas foi a partir da metade da década de 1960 que o surfe começou a se popularizar no Rio Grande do Sul. Um dos personagens dessa história é Jorge Gerdau Johannpeter. Aos 28 anos, Gerdau já percorria o país à negócios. Em uma dessas viagens, o administrador do Grupo Gerdau testemunhou a efervescência do surfe no Arpoador, Rio de Janeiro. Encantado e apaixonado pelo mar, Jorge Gerdau comprou sua madeirite numa loja na Praia de Copacabana e trouxe a novidade para o Rio Grande do Sul.
Foi nessa ocasião que o garoto de Porto Alegre, Marco Antônio, se deslumbrou ao ver os irmãos Jorge e Klaus Gerdau Johanpetter deslizando sobre as ondas com os amigos Martin Streibel e Roberto Bins. Marco ganhou um madeirite do pai e se juntou ao grupo.
No campeonato de 1968 eram apenas 15 participantes, mas cerca de sete mil pessoas escalaram as pedras das encostas e dos paredões e dezenas de carros invadiram as areias da praia para prestigiar o torneio promovido pela Companhia Caldas Junior.
Marco entrou para a história do surfe gaúcho como o primeiro e eterno campeão.