Gabriel Pierin
Tito Rosemberg nasceu para viver nas praias do Rio de Janeiro. Do tradicional bairro da Urca, passando pela Avenida Atlântica e a Rua Sá Ferreira, endereços distintos de Copacabana, o destino era sempre o mesmo: a praia.
Os primeiros passos na areia se transformaram em brincadeiras na água. Aos oito anos ganhou de presente de Natal uma tabuinha de jacaré da marca Oceania. O menino cobiçava o objeto exposto na vitrine da loja Balnea, um bazar próximo de sua casa.
Tito viveu numa época em que os numerosos e imensos edifícios de Copacabana iam dando um novo contorno na orla. O transporte entre os anos 1950 e 1960 eram os bondes elétricos e o passeio pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, indo do Posto 6 ao Leme, era um charme.
Aos 14 anos Tito ganhou sua primeira prancha. Era um canhão oco de madeira com apenas um remo. A imensa tábua foi feita para remar sentado. O surfe ainda era um esporte desconhecido para Tito, mas o rapaz queria desafiar seus limites e remava de pé para o fundo. No mar ao longe, mirava os edifícios e o calçadão famoso.
O pranchão de compensado naval tinha um problema: oco e reto, enchia d’água e se tornava ainda mais pesado. As ondas traiçoeiras tragavam a água com força e a prancha despencava no vácuo, embicada para baixo.
Um ano depois, em 1961, o jovem resolveu investigar o mar além do Forte de Copacabana. A base militar era a fronteira do mundo de Tito. Ele saiu do Posto 6, margeou o Forte, atingiu o mar aberto até vislumbrar o Arpoador. Foi uma visão apoteótica. Diante de si, vários rapazes cavalgavam as ondas de pé. Esses cavaleiros do mar eram os surfistas. Entre eles, os primeiros do Arpoador: Arduíno, João Cristóvão, Badué, Bruno Hermani e Barriga.
As pranchas deles eram de madeirite, um compensado industrializado e tinham o bico curvado. Os surfistas usavam pés de pato que facilitavam a entrada na onda. O menino de Copacabana se juntou aos surfistas do Arpoador e passou a frequentar e a viver o estilo de vida livre.
Tito vendeu seu canhão mas não tinha dinheiro suficiente para comprar um madeirite. O jeito foi se unir ao amigo Edgar Gordilho. Ele ganhou uma prancha de madeirite fabricada na oficina do Moacyr, um carpinteiro naval da Ilha do Governador.
Muita coisa mudou quando o famoso surfista Peter Troy apareceu no Rio. O australiano trouxe seu conhecimento na fabricação de pranchas mais leves e modernas, feitas de poliuretano. Era o fim dos madeirites e o começo de uma nova era.
Fonte: Arpoador Surf Club, Editora Gaia.