O céu e o mar de Roberto Stickel

Por Gabriel Pierin

Ele voou de asa delta pelo céu do Brasil, realizou o primeiro voo de ultraleve no país, saltou de bungee jump num precipício de 100 metros, desceu uma montanha a 100 quilômetros por hora numa prancha de snowboard e experimentou o Sukhoi SU-27, um caça supersônico russo. Porém foi no mar que a aventura de toda uma vida começou.

Roberto “Neco” Stickel nasceu em São Paulo em 1954. Era na casa do avô, na Praia das Astúrias, no Guarujá, que a Família Stickel encontrava refúgio aos finais de semana. Naquele tempo, as Astúrias ainda era uma praia nativa com poucas casas na areia.

A primeira experiência com o surfe foi com o seu pai. Roberto, aos quatro anos de idade, montava nas costas do pai para pegar jacaré nas ondas selvagens do Guarujá. Um pouco mais velho, ele ganhou uma pranchinha de madeira para descer as ondas de barriga. Por volta de 1964 ele viu uma foto de um surfista descendo uma onda de pé. Naquela mesma época, avistou um surfista com uma prancha tipo “caixa de fósforo” no mar.

Roberto se arriscou e conseguiu ficar de pé sobre aquela prancha. Era o início de uma paixão. Num daqueles dias, ele viu os irmãos do Itararé, Carlinhos e Dudu Argento cortando uma onda. Ele ficou completamente tomado pela radicalidade dos gêmeos e entendeu as manobras e a essência do surfe.

No verão de 1966, o Edifício Tendas apontou nas Astúrias. Entre seus ilustres moradores estava o doutor Paulo Mello, pai de Luís. A dupla tinha bastante intimidade com o mar e surfava com uma Glaspac MK1.

Stickel ficou alucinado com aquela nave aquática futurista. O menino ajudava Paulo a levar a prancha para o fundo até colocar Luís na onda. A recompensa era a chance de experimentar a prancha. O entusiasmo era tanto que sensibilizou o próprio pai. Foi aí que ele ganhou uma Glaspac MK1 amarela e vermelha.

Aquela foi a melhor e mais inesquecível surpresa da sua vida. Roberto não ganhava presente fora de época e o gesto do pai teve um sabor especial. Os finais de semana tornaram-se sagrados. Roberto encontrava Luís na água e juntos pegavam as ondas estouradas até o raso. Pouco depois, numa viagem de navio com a família para o Rio de Janeiro, o pai viu uma Dextra Surfboards numa loja e comprou a prancha. Ela voltou junto no navio e Stickel surfou com ela até 1968.

Nos primórdios do surfe nas Astúrias, Teixeira foi outro surfista que deixou sua marca. Os dois gostavam de ondas grandes, mas ele era mais corajoso, capaz de enfrentar os caixotões das Astúrias. Nesses dias Stickel ficava na areia admirando sua capacidade de entrar na onda gigante e se salvar, saindo no último segundo antes dela fechar. O paulistano, estudante do Colégio Santa Cruz, Christian Frutig, o Chaine, também aparecia por lá, e era muito amigo de Gessia. Além dela, outras meninas também surfavam. Renata Polisaitis e as primas de Roberto, Renata e Cristina Muller formaram com a galera das Astúrias.

A casa no Guarujá acabou virando um depósito das pranchas dos surfistas santistas. A mãe pilotava uma perua Veraneio e dava carona para as pranchas e surfistas até a balsa. Cada vez mais o esporte se popularizava e as praias do Guarujá se tornavam o destino para a juventude do litoral e da capital paulista.

Durante a década de 1960 o surfe foi o seu grande vício. Aos 41 anos encarou o maior desafio no mar. O paulistano fez town-in em Jaws, no Havaí, com ondas de 20 pés. Hoje Roberto está com 66 anos e não abandonou o surfe.

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