Na manhã de 21 março de 1965, José Carlos Paioli se preparava para a Travessia da Baía de São Vicente. Na última edição da competição, o nadador tinha alcançado a 8ª posição. Ele se tornou um dos favoritos ao título.
No início da prova de Travessia, José Paioli se desviou da rota, corrigiu, recuperou o tempo e ultrapassou os concorrentes. Com o tempo de 12 minutos, o jovem de 15 anos conquistava a Travessia pela primeira vez.
A aptidão pela natação era uma herança de família. Seu pai, Carlos Paioli foi seis vezes recordista paulista. Ao se tornar técnico do Saldanha da Gama quebrou a hegemonia de mais de vinte anos do Clube Internacional, ganhando o campeonato santista infanto-juvenil.
A intimidade com as águas das piscinas e do mar conduziu José Carlos para o surfe. No final de 1964, ele folheava um exemplar da revista O Cruzeiro quando encontrou uma reportagem sobre o esporte que se difundia nas praias cariocas.
Aquela reportagem foi uma luz na vida de José Paioli. O desejo de ficar de pé sobre uma prancha tomou conta do seu pensamento. Alguns dias se passaram, Zé Paioli estava na praia do Itararé, quando viu o Paulinho Montenegro com uma prancha de madeirite. Ele correu ao seu encontro e perguntou como a prancha foi feita. Paulinho falou como arranjar uma tábua de madeirite, descreveu o desenho para fazer o outline e orientou que procurasse uma marcenaria para fazer o corte e colocar a quilha.
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Zé Paioli se juntou ao amigo Geraldo Faggiano Junior. Juntos invadiram o canteiro de obras de um prédio em construção na avenida Presidente Wilson. Os garotos surrupiaram duas tábuas de uma pilha de madeirites.
No dia seguinte, Zé riscou o outline nas tábuas. A marcenaria ficava na rua Marechal Deodoro a poucos quarteirões de sua casa. Com a ajuda do pai e na companhia do amigo, ele colocou as tábuas sobre o fusca e foram até a oficina. O corte foi feito e, em casa, Zé fez o arredondamento das bordas e a pintura da prancha.
O dia de estreia estava chuvoso, mas Zé estava radiante. Ele foi com o pai e o irmão Chico Paioli para o canto do Itararé, mas só ele entrou no mar. Durante duas horas, o jovem garoto insistiu até ficar de pé sobre a prancha. O ritual mágico iria se repetir durante o ano de 1965.
Outros garotos do Itararé, entre eles os irmãos Argento, também começaram a se divertir com os madeirites, para desespero dos construtores dos edifícios de uma cidade em expansão.