Pioneiros – Madeirite, Guarujá

Gabriel Pierin

Os freis carmelitas do Colégio do Carmo eram muito rigorosos e os alunos ginasiais Ronaldo Pardal e Udo viviam as descobertas da juventude e os contrastes da década de 1960. Da Califórnia, auge da contracultura, partiam os filmes que propagavam o estilo livre e natural.

Nas suas leituras, Pardal guardava as revistas Seleções da Reader’s Digest, produção norte-americana que trazia matérias inovadoras, como os Cavaleiros das Ondas do Mar. A imaginação começou a libertar o espírito aventureiro dos jovens estudantes do ensino religioso.

No colégio, histórias sobre homens que desafiavam o mar saíram das páginas das revistas e rolos de filmes e viraram realidade nas rodas de bate papo com os colegas Cocó e Otto. Cocó era filho do professor de Educação Física do colégio, Geraldo Faggiano. Nessa época, os vicentinos já falavam sobre pranchas, arrebentação e práticas com o mundo do surfe, enquanto os meninos guarujaenses se divertiam no sonrisal e jacaré.

A lembrança radical mais remota nas praias do Guarujá tinha como protagonistas os surfistas Guaracy e Carlos Almerindo, por volta de 1964. Ainda crianças, Pardal e Udo viviam as primeiras experiências com o mar e, entre as brincadeiras, assistiam as performances dos ídolos: Guaracy, nadador de competição e Almerindo, oficial da Força Aérea, mergulhador profissional.

Eles atravessavam a arrebentação das ondas das Pitangueiras e pegavam as maiores no fundo para delírio da pequena plateia na areia. Guaracy tinha uma tábua oca de madeira, grande como uma “Tom Blake” e Almerindo uma “caixa de fósforo” tradicional. Eles desciam as ondas de pé e enfeitiçavam a molecada.

O tempo passou e a escola acabou sendo a porta de entrada para a nova geração. Cocó explicou sobre a fabricação das pranchas de madeirite. Pardal e Udo tomaram duas tábuas de madeirite em uma construção, serraram no formato de uma prancha e pregaram a quilha na rabeta. As ondas do Guarujá, fortes e cavadas, tornavam o surfe com o madeirite um grande desafio.

Com o passar do tempo, as balsas atravessavam os santistas com mais frequência para o Guarujá. Eles eram mais habilidosos e tinham pranchas melhores. Nessa época, o professor Geraldo Faggiano começou a encaminhar a garotada para as pranchas de fibra. Uma transição que começou a popularizar o surfe.

Jovens oriundos de Santos, São Vicente e São Paulo tornaram o Guarujá o paraíso do surfe, das boas ondas e das tribos. As festas e bailes no Guarujá Praia Clube, conhecido como Cassino, congregava toda a juventude. Era um ponto de convergência.

A Pérola do Atlântico se preparava para receber o Campeonato de Surf, o primeiro da história de São Paulo.

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